PASSATEMPO

Afastado daquele mundo aflito,
no aconchego do abraço bem-amado,
dor aflora cruel, quando medito,
transformando-me efêmero aloucado.
Que terá motivado meu pensar,
que tão doloso fiz, meu pensamento?
Um nada, me responde teu cuidar,
muito embora prossiga meu tormento.
Aquele pranto bom, minha querida,
holocausto, inócuo ao amor,
de tua alma santa, madre protegida,
fere-te e a mim também com pio furor,
mas chagas feitas com simples lamento,
não são dores e sim um passatempo.

SONATA DO AMANHECER

 
A manhã aguarda quieta
que os primeiros raios de Sol
a venham fecundar,
para que deste amor
nasça o dia forte e claro.
O mundo acorda num estrépito uno,
as cores vão tomando cor,
a luz já venceu as trevas
e a música faz, ditadora que é,
o silêncio adormecer.
A orquestra do amanhecer
afina em impulso total
para a rapsódia do dia.

UMA PRECE DE SAUDADE

Onde estiveres, ouve-me.
De onde puderes, guia-me,
pois sei que estás longe, além,
bem além da minha imaginação.
Ou próximo, até ao meu lado,
em dimensão estranha, talvez estejas.
Não importa, te amo,
tardia, porém sinceramente.
Amo-te pelos sentimentos bons
que tua lembrança me inspira.
Amo-te pelas recordações sadias
que, lado a lado, criamos.
As lágrimas que me escapam,
não são da fraqueza, que odiavas,
mas da nobreza dalma, que veneravas.
Amo-te na aflita esperança
de um futuro encontro.
Amo-te com a força de ser teu filho,

pai.