Pede-se
às altas autoridades brasileiras, respeitosamente, a cortesia de
responder às perguntas feitas nas linhas abaixo, por serem de possível
interesse do público.
1)
O que a Receita Federal faz em relação a esses pacotes de dinheiro vivo
que políticos e funcionários do governo vivem enfiando nos bolsos e
bolsas? A Polícia Federal e o Ministério Público, a esta altura, já
poderiam ter montado uma cinemateca inteira com os vídeos que registram
essas cenas. Nunca acontece nada de sério com os indivíduos flagrados
metendo a mão na massa, é claro. Mas como fica a sua situação perante o
Fisco? Ninguém pode negar que recebeu, pois há prova filmada de que
todos receberam. O que colocam, então, em suas declarações de renda? Se
não declaram nem indicam a fonte pagadora, estão praticando sonegação.
Se declaram e pagam o imposto devido, a Receita poderia ser acusada de
estar cometendo crime de receptação, por receber parte de bens roubados.
Como é que fica?
2)
Alguém no Itamarary poderia informar por que o Brasil tem embaixadas no
Azerbaijão, Mali, Timor-Leste, Guiné Equatorial, São Cristóvão e Névis,
Santa Lúcia, Botsuana, Nepal, Barbados e outros lugares assim? Seria
possível citar algum caso em que alguma dessas embaixadas fez alguma
coisa de útil para os contribuintes brasileiros? Daria para descrever,
digamos, uma jornada de trabalho do embaixador brasileiro no Mali? A que
horas ele chega ao serviço ─ e, a partir daí, fica fazendo o quê, até
voltar para casa? Seria bom, também, saber até onde o Itamaraty quer
chegar. Pelas últimas contas, parece que existem hoje 193 países no
mundo, e o Brasil só tem 126 embaixadas; faltam mais 67, portanto. A
dura verdade é que não temos nada, por exemplo, na Micronésia, em
Kiribati ou em Tuvalu. Vamos ter?
3) Por que, e principalmente por ordem de quem, o dr. Juquinha, ou José Francisco das Neves, ficou oito anos inteiros, de 2003 a
2011, num cargo-chave do programa nacional de ferrovias? Já é chato,
para uma Grande Potência, como quer ser o Brasil, ter na sua alta
gerência um cidadão que se faz chamar de “dr. Juquinha”. Mas o problema,
mesmo, é que o homem saiu dali quase diretamente para o xadrez, acusado
de acumular durante sua passagem pelo governo um patrimônio pessoal de
60 milhões de reais; a principal obra sob a sua responsabilidade, a
“Ferrovia Norte-Sul”, pagou às empreiteiras um “sobrepreço” de 100
milhões, só no trecho de Goiás. Ninguém, durante esse tempo todo, quis
saber como o dr. Juquinha enriquecia, a ferrovia não andava e a obra
ficava cada vez mais cara?
4)
Qual o destino da montanha de papel que a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, a Anvisa, obriga as 60000 farmácias brasileiras a
acumular todo santo dia? Basta uma continha rápida para perceber a
prodigiosa quantidade de entulho que elas juntam na forma de receitas
retidas, fotocopiadas, carimbadas no verso, preenchidas a mão pelo
balconista etc. Sabe-se que hoje as farmácias têm de manter “livros de
escrituração manual” e que há, para o futuro, a promessa de um sistema
“eletrônico”. E no momento? A Anvisa verifica, um a um, cada papel
desses? O que faz com eles? Ainda no tema: como é possível, segundo
informou há pouco a revista EXAME. que 1250 pedidos de compra de
equipamentos hospitalares de última geração, críticos para salvar vidas,
estejam retidos hoje pela agência, que não autoriza sua entrada no
Brasil?
5)
Como a empreiteira Delta se tornou a maior construtora de obras do PAC?
Suas atividades, como se vem apontando há pelo menos cinco anos, cobrem
o Código Penal de uma ponta à outra ─ está metida em corrupção, fraude,
falsificação, desvio de verbas, superfaturamento, lavagem de dinheiro,
formação de quadrilha, criação de empresas-laranja e por aí afora. Só no
ano passado, apesar de toda essa folha corrida, recebeu quase 900
milhões do governo federal. Será que a presidente Dilma Rousseff, nestes
seus dezoito meses no cargo, nunca teve a curiosidade, nem por um
instante, de saber quem era a empreiteira número 1 do seu PAC, do qual é
a própria mãe? Por que o PT e o governo fazem tanta força para que o
dono da empresa, Fernando Cavendish, não seja interrogado no Congresso,
como se guardasse o Terceiro Segredo de Fátima?
Estas
cinco indagações, e tantas outras, deveriam ser enviadas ao Ministério
de Perguntas Cretinas, pois é exatamente assim que todas elas são vistas
pelo governo. Mas esse ministério só existiu na imaginação de Millôr
Fernandes. Ele está fazendo uma falta danada...
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