24 julho 2007

Carta Testamento de Getulio Vargas

"Mais uma vez, as fôrças e interêsses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito
de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu
não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os
humildes. Sigo o destino que me é impôsto (?). Iniciei o trabalho de
libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.
Voltei ao Govêrno nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos
internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime
de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no
Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam
os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas
riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de
agitação se avoluma (?). Não querem que o trabalhador seja livre. Não
querem que o povo seja independente.

Assumi o Govêrno dentro da espiral inflacionária que destruía os valôres de
trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano.
Nas declarações de valôres do que importávamos existiam fraudes constatadas
de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café,
valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a
resposta foi uma violenta pressão sôbre a nossa economia, a ponto de sermos
obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo à uma pressão
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo,
renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda
desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de
rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo
brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho êste meio de
estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo
ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito,
a energia para a luta por vós e vossos filhos (...). Meu sacrifício vos
manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gôta de meu
sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração
sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam
que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje
me liberto para a vida eterna. Mas êsse povo de quem fui escravo não mais
será escr
avo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue
será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo.
Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram
meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte (?).
Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida
para entrar na História."


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